segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Eu de férias, tu trabalhas, ele trabalha...

Não há nada como estar de férias... Nós recepcionistas temos férias quando mais ninguém tem, o que prevê pouca massificação nos locais que escolhemos...Óptimo!! É perfeito ter uma praia deserta em pleno mês de... Outubro! O tempo incerto e fresco, os dias curtos, tentar enfiar roupas de verão num corpo arrepiado com o frio e aproveitar o sol do meio dia para bronzear pelo menos a cara. Como é bom ter férias!
A vantagem é que eu sou adepta do turismo cultural e paisagístico. Pelo menos é um tipo de turismo que não discrimina turistas e "feriantes". Aceita toda a gente em qualquer altura do ano e acredito que se eu fosse um Monumento também ia gostar de ser visitado fora da época de verão. Ia sentir-me um local apreciado e único, por ter sido escolhido para ser visitado numa época que ninguém se lembra de escolher.
Outra vantagem de ter férias nesta altura é ver os desgraçados que têm que se levantar para ir trabalhar e eu a rir-me sorrateiramente por poder ficar todo o dia a alimentar o ócio. Normalmente na época de verão toda a gente está de férias... poucos são o que sentem este privilégio superior de poder estar em casa quando os outros trabalham.
Agora há outra questão engraçada. Dizem os especialistas que deve ser preparada um pré-rotina, pelo menos na semana antes de se regressar ao trabalho. Dentro desta rotina estão os horários. As "pessoas normais" têm que se voltar a habituar a deitar cedo para levantar cedo... No meu caso, eu confesso... nas férias deito-me cedo. Que rotina é a minha que me obriga a habituar de novo a deitar tarde...? Vá-se lá a entender os recepcionistas e os seus turnos...


toonpool.com (fonte da imagem)

(Este texto está em Desacordo Ortográfico)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Knock, Knock... Room Service

 O Room Service é o paraíso dos Hóspedes molengões e o maior pesadelo dos Recepcionistas solo.
Quando o telefone toca na recepção e constato que vem de um quarto que já entrou há mais de 1h, sei, logo à partida que vem algum pedido especial a caminho. Quando ouço a melódica pergunta do "Tem Serviço de Quartos?", fico orgulhosa por o meu super poder de adivinha estar cada vez mais desenvolvido (é um requisito pretendido para se ser recepcionista, porque há hóspedes que não nos dirigem uma palavra e nós temos que adivinhar o que eles precisam... mas sobre isso, falarei num outro tópico...).
Como é um Hotel com regime de Alojamento e Pequeno-Almoço, não há obviamente serviços de jantar (ou almoço); o que temos é uma família de sopinha caseira, tostas mistas, torradas e sandes. E a escolha do hóspede resume-se a isto.
As mais populares são a sopa e a tosta mista e sempre que encabeço a aventura de as preparar tenho que estar na Recepção a atender o telefone ou a fazer algum check-in, no Bar a servir alguém e na Copa para não deixar queimar a tosta... Normalmente é tudo ao mesmo tempo. Quando tudo está perfeitamente distribuido no tabuleiro, parto à aventura de chegar ao quarto, que habitualmente é sempre o mais longe possível e no 1º andar.
Tenho boas memórias sobre eu, a servir o "Room Service"... :
- Os americanos são as pessoas mais simpáticas... Dão sempre gorjeta. Não importa o que se leve ao quarto.
- Numa vez, os hóspedes que entraram eram um casalinho jovem, com a mania que fica muito em hotéis. Logo no check-in e na atribuição do quarto fizeram alguns escândalos, que só contribuiram para ficar com eles "entalados". Depois de instalados e já passadas umas longas horas, ligam para a recepção para lhes entregar uma simples garrafa de água. Eu acedo muito simpaticamente ao pedido e entrego a garrafa no quarto que se situava mesmo, mesmo ao lado da recepção. Quando as pessoas são simpáticas comigo, sou gentil e não cobro o custo do serviço de quarto, especialmente estando tão perto da recepção... A estes peculiares clientes, cobrei-lhes o custo propositadamente.
- Aconteceu-me também, confundir os quartos para a entrega e no momento que bati na porta errada apercebi-me que acabara de meter o pé na argola. Não fosse o peso do tabuleiro e eu tinha corrido e tinha-me escondido na esquina do corredor, até ter a certeza que ninguém estava a espreitar... Limitei-me a pedir desculpa.
- Depois existem aquelas situações em que há necessidade de subir e descer as escadas umas 1000 vezes para entregar tudo o que foi pedido no quarto. Uma das vezes, um senhor pediu 3 sopas, 3 tostas e as bebidas. Como profissional de gestão de tempo que sou, fui servir as sopas primeiro enquanto as tostas faziam. Logo de seguida servi as tostas com as bebidas e ouvi resmungarem atrás da porta: "até que enfim". Resultado, 2 Serviços de Quarto cobrados. É que eu ando o mais acelerada possível e juro que foi só mesmo o tempo de vir cá abaixo barrar as tostas com manteiga e subir. Não tenho culpa que fossem uns alarves a comer sopas. Se se tivessem mantido no seu nível de simpatia fechava os olhos às vezes que subi e desci as escadas...

Veja bem como é que trata os Recepcionistas para a próxima... não vá aparecer uma conta excessiva no serviço de quarto. Somos uns sacanas...!
 
(Este texto está em Desacordo Ortográfico)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Breakfast included

Ao fazer o turno da noite, o meu passatempo preferido é montar o pequeno almoço. A emoção do contra-relógio, desafiando records pessoais, junto com a adrenalina de, sozinha, conseguir preparar um belo buffet de pequeno almoço para os meus simpáticos hóspedes (que muitas vezes passam das 50 pessoas).
Reitero o meu ódio de estimação que alimento todas as vezes pelo Fiambre e mais recentemente pelo Presunto Ibérico em fatias, que não descola da embalagem, nem com diluente.
Quando depois de 2 horas e pouco de luta com a mais diversa qualidade alimentícia para pequeno-almoço, orgulho-me de olhar para as mesas, como uma meta vencida. Venci a corrida contra o relógio e venci todas as especificidades do mise en place que um pequeno almoço buffet obriga.
Os guardanapos perfeitamente dobrados nas mesas, os talheres imaculadamente brilhantes, a loiça organizada, o queijo e o fiambre num jogo de simetria no prato, o queijinho fresco e o presunto geometricamente dispostos, a fruta laminada, o pão... O sentimento que surje é de uma obra-prima acabada. A vantagem é poder repetir centenas de vezes esta obra de arte, olhando cada vez mais aos pormenores.
Tudo isto, leva-nos ao diferente tipo de Clientes que se sentam à mesa no Pequeno-Almoço.
A abertura oficial da Sala é as 7h e em dias de semana, os primeiros clientes madrugadores a chegarem timidamente, são distinguidos pelo arrastar das cadeiras que ecoam num hotel semi adormecido ainda. Estes são os hóspedes mais ou menos habituais que saem cedo para poderem ir trabalhar. Ao fim de semana, o meu turno acaba e não vejo uma alminha na sala do pequeno-almoço. Reza a lenda, que só a partir das 10h (que é a hora do fecho da sala) é que vão aparecendo os primeiros corajosos.
Então na Sala do Pequeno Almoço é possível distinguir pelo menos 3 Grupos:
1º Grupo: Os que usam a chávena, o pires e só mais um pratinho para colocarem o Pão e o Fiambre/ Queijo ou que for para acompanhar. Estes clientes, normalmente deixam a toalha imaculada, sem nódoas de café ou sumo, sem migalhas e sem roubarem os talheres do lugar vizinho. Retirar a loiça destes Clientes é o maior prazer, mesmo depois de um turno comprido da Noite.
2º Grupo: Os que usam a chávena, o pires, o pratinho para o Pão, o pratinho para os acompanhantes, o pratinho para a fruta, a tigela de cereais e um Iogurte. Usam um copo para a água, outro para o sumo de laranja e outro para o néctar de pêra. Experimentam uma variedade de chá, o que os leva a colocar mais uma chávena na mesa. Estes são aqueles que experimentam tudo e deixam metade no prato, porque como já diziam os meus Pais "têm mais olhos que barriga". A par disso, fica uma montanha de loiça e uma panóplia de talheres na mesa, que faz qualquer ser humano duvidar que só uma pessoa ali esteve a comer. Normalmente depois destes clientes, tenho sempre que colocar uma toalha nova e refazer tudo.
3º Grupo: É o grupo que inclui os Clientes fãs de um só alimento do buffet, como é o caso do queijinho fresco. Depois de horas de trabalho, as meias luas do queijinho fresco foram fazer luar para outras paragens.
O pequeno almoço é um dos mais meticulosos trabalhos dentro do Hotel, capaz de pôr à prova o mais paciente Recepcionista que apareça.
Eu por mim só tenho pena que os nossos Hóspedes não parem para admirar a maravilhosa obra que nasceu na Sala, enquanto dormiam profundamente nos seus quartos.
Bom Apetite.

 Fonte da Imagem: bellezafashion.blogs.sapo.pt

(Este texto está em Desacordo Ortográfico)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Truques de Sedução

 Chega ao bar do Hotel e pede uma Imperial fresquinha. Muito simpáticamente o menino ou a menina que o atende serve-lhe a sua bebida e a acompanhar uns frutos secos. Recusa delicadamente, pensando que vai deixar metade do seu orçamento naquele pirezinho de tentadores salgadinhos das mais diversas variedades e tamanhos. O menino ou a menina que o atende diz-lhe que são oferta. Parece-lhe familiar?
Temos dois motivos porque o fazemos:
1º - estamos mesmo a tentar ser simpáticos! É o meu truque de conquista de hóspedes!
2º - (agora vem esta razão que com toda a certeza descredibilizará o 1º motivo e que a sua revelação me vai custar o emprego e a aceitação na massa hoteleira) Ora aqui vai a revelação: Oferecemos o pirezinho para que possa consumir mais uma Imperial... é que os salgadinhos sempre dão sede...

E sai mais uma Imperial!





(Este texto está em Desacordo Ortográfico)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Registo de Hóspedes



Tenho quase 1 ano e 9 meses de casa, mas já vi passar centenas de hóspedes todos com as suas especificidades de personalidade e carácter. Com uns é possível dialogar, questionar, conversar, confidenciar e solicitar a sua paciência muito facilmente… Há outros, que me deixam logo a tremer dos joelhos mal entram a porta do Hotel. Há caras novas todos os dias e caras familiares que permanecem dia após dia, somando semanas e meses de estada.
Lembro-me que o primeiro grupo que registei mandei-o para os quartos sem estes ainda estarem arrumados. Não deu muita barraca, porque a colega que me estava a orientar avisou-os a tempo… Depois desse, vieram muitos.. muitos mais! Desde Peregrinos a Motards, famílias inteiras, turistas e pessoas chiques em grupo. Há depois os hóspedes de empresas que fazem do Hotel a sua casa, e de nós a sua família. Havia o senhor que ficava sempre no mesmo quarto, encomendava pizzas para o nosso jantar, fazia trocadilhos com músicas e dava-me lições importantes. De há um ano para cá, deixou esta família para se juntar à dele e recuperar o tempo perdido. Há o senhor colega dele que continua a marcar presença. É uma pessoa sociável também, mas impõe o seu respeito e eu nunca sei bem como reagir ao pé dele. Gosta de atirar a chave para cima do balcão e de ler as notícias antes de ir para o quarto. Entretanto começaram a vir outros novos, como o senhor que é médico, que nunca quer o ticket do multibanco agrafado à Factura e gosta de iogurtes naturais ao pequeno-almoço. Depois, pelo menos uma vez por mês, vem também aquele senhor super simpático e divertido que quando pede uma tosta e um fino me diz que não precisa de ser a correr. Reclama sempre do preço do fax e eu secretamente lá lhe faço uma atençãozinha por ser uma pessoa tão acessível. Há também o senhor simpático que é veterinário e que gosta de comer sopa e uma tosta e beber um chá antes de ir dormir. Adoptou-nos também como a sua família e a mim cativou-me na primeira tosta que pediu neste Hotel. Há também aquele senhor que só o consegui fazer sorrir uma vez, mas que transparece uma tranquilidade e amizade na sua voz. Há depois aquele senhor com idade para ser meu avô, muito querido e simpático que toma sempre o pequeno-almoço às 6h da manhã. Existe ainda a menina super querida que gosta de ficar nos quartos perto da recepção e a senhora que nunca sei quando vai comer sopa.
Depois há o senhor emigrante que gosta do seu copo de vinho e de dois dedos de conversa antes de ir para o quarto e o outro emigrante que me dá pena quando tem que se ir embora. Há ainda o senhor, que não sendo hóspede, vem sempre cá tomar o café. É uma pessoa culta e informada e gosto bastante de conversar com ele. Há ainda o grupo que se reúne uma vez por semana e aquele jovem que depois de mais de meio ano se despediu também de nós. Há ainda aqueles que vêm poucas vezes, mas que não os deixamos de conhecer e aquele espanhol que fica sempre contente em me ver por aqui. 
Há muitos que vêm e que vão e outros tantos que ainda hão-de aparecer.


(Este texto está em Desacordo Ortográfico)
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